Reminiscências são memórias ou lembranças que carregamos ao longo da vida. Nem sempre são boas, mas elas costumam ganhar aconchego em nossos pensamentos e despertam um sentimento melancólico devido ao afastamento de uma pessoa, uma coisa ou lugar e até mesmo à ausência de experiências prazerosas já vividas, que causa desconforto e, o nome para isso, é saudade.
Freud afirmou: "sofremos de reminiscências que se curam lembrando", pois bem, hoje estou a lembrar de um céu azul maravilhoso e campos cheios de vida e riqueza, os campos do pampa gaúcho.
Logo que se aproxima da região da Fronteira do Rio Grande do Sul, as paisagens mudam completamente, se enxerga o horizonte e o sol toca o chão. Os campos são ocupados por gado, cavalos, ovelhas e lavouras de arroz. Imponentes e extensos arrozais que determinam a agricultura da região e a pecuária da melhor qualidade. São características únicas, cheiros inconfundíveis como o do amigo e mal-humorado "Zorrilho" que esguicha uma substância fedorenta quando perseguido ou acuado. Os estudiosos dizem que é uma glândula perianal que produz esse líquido, mas sou da opinião que Deus criou o bichinho como forma de identificar que estamos na Fronteira, chegando em Uruguaiana, a sentinela do nosso país.
Então seguindo o pensamento do nobre Freud, quero curar a saudade, lembrando de um lugar muito especial, o lugar onde nasci. Não sinto que seja mais a minha casa, mudei bastante e não me vejo mais lá, mas me identifico com tudo que existe lá. Ainda quero passar um tempo contribuindo para que aquele lugar seja melhor e que ofereça melhores condições sociais e culturais para o povo que nunca saiu de lá.
Minha raiz traduz na sua própria estampa
Toda esta pampa que o gaúcho idolatra
Com meus pesuelos trago a saudade gaviona
Que repechona vem tropeando a culatra
Dentro do peito corcoveia uma doutrina
Estirpe e sina palanqueando a tradição
Sou como o rio, que vai legando mil caminhos
Tirando espinhos em cada aperto de mão.
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De onde eu vim, trouxe a herança galponeira
Velha bandeira de um atavismo curtido
Mesclando campo com o sabor desta querência
Reminiscência do meu pago mais querido
Pois não tem um quera que more aqui no Rio Grande
Que o seu sangue não valha a sua terra.
(Doutrina de Gaúcho - Os Mateadores)
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Foto: Alexandre Cantarelli @bebeferreira |